2020

Aline Alvarenga
3 min readDec 29, 2020

A chegada da pandemia de Covid-19 impôs uma série de desafios e instaurou uma crise mundial sem precedentes. Mais: expôs de maneira cristalina todas as nossas misérias como sociedade. 2020 foi o ano que tivemos que olhar tudo que deixamos por fazer — no campo individual e também, no coletivo. 2020 será marcado e lembrado por sua excepcionalidade.

Sob o ponto de vista econômico, a pandemia causou estragos por todo o mundo: a taxa de desemprego aumentou de forma surpreendente e Bancos Centrais tiveram que agir injetando quantias exorbitantes de dinheiro na economia. O Estado — o tão “famigerado” Estado — foi o principal agente no enfrentamento à pandemia. Nos dias atuais, sua atuação foi essencial e mais: aquele velho mito do Estado mínimo foi por água abaixo. A iniciativa privada não possui arcabouço necessário para enfrentar uma crise dessa magnitude. Pelo menos, não sozinha. É, de fato, uma crise inédita.

Os ricos enriqueceram, enquanto a desigualdade se acentuou. O Brasil, país já conhecido por suas mazelas sociais, a discussão sobre a Renda Básica passou a ocupar o centro do debate público. E depois de um esforço conjunto, entre sociedade civil e Congresso, o Auxílio Emergencial foi aprovado com a celeridade necessária. O auxílio deu uma espécie de “respiro” à população mais vulnerável, que representa quase ⅓ da população brasileira. A desigualdade, antes posta debaixo do tapete, foi escancarada. Quase 70 milhões receberam o auxílio emergencial. Seiscentos reais por mês. Para a população mais abastada, esse valor parece pífio, mas grande parte da população beneficiada recebeu essa quantia pela primeira vez. O auxílio, além de dar suporte à população desalentada, foi fundamental para manter — mesmo que momentaneamente — a economia aquecida. É sabido que populações mais carentes gastam a sua arrecadação em quase sua totalidade. Em linhas gerais, gastam para a sua própria subsistência — uma enorme fatia da sua cesta de consumo é composta por gastos com alimentação. Com isso, o auxílio teve papel duplo: amparar as famílias e dar sustento à economia por meio do consumo.

A crise sanitária, proveniente da pandemia, pôs à prova o SUS e — conforme dito pelo Dr. Dráuzio Varella — revelou, que sem ele, seria uma completa barbárie. O Sistema Único de Saúde, ainda que sucateado e com falhas estruturais monumentais, foi capaz de atender grande parte da população. Importante salientar que 75% da população brasileira depende inteiramente do SUS. Houve falhas? Inúmeras. A começar pelo atendimento primário e pelo não uso dos agentes comunitários — tão importantes no rastreamento de contatos. O troca-troca de Ministros da Saúde do meio da pandemia não ajudou. Pelo contrário, criou um ambiente de incertezas.

O Governo Federal deixou a desejar, principalmente pela falta de liderança, comunicação falha entre estados e municípios e pela ausência de um planejamento concreto no enfrentamento à pandemia. O Presidente, na qualidade de figura mais poderosa do Poder Executivo, se absteve da responsabilidade e ainda negou a existência do vírus, que até o momento, ceifou a vida de mais de cento e noventa mil brasileiros. Não se trata de uma gripezinha. Trata-se de um vírus letal que causa efeitos sistêmicos e ainda pode causar sequelas — por tempo indeterminado.

As perspectivas para o ano de 2021 não são lá muito otimistas. Do ponto de vista econômico, ainda há um enorme percurso a trilhar e o fim do auxílio emergencial é motivo de grande preocupação. Sem o auxílio, muitas famílias ficarão desamparadas e o cenário é desolador. No que diz respeito à crise sanitária, os dados da Covid nesse mês de dezembro são alarmantes. Enquanto isso, a população se aglomera em festas e afins. Seria cansaço ou desleixo? Talvez os dois. Todos querem o fim da pandemia, mas esqueceram de avisar o vírus — esse, sem vacina ou tratamento, permanecerá.

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