Aline Alvarenga
2 min readNov 28, 2020

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A lagosta

A feira de ciências era um dos grandes acontecimentos da minha escola. Lembro que os projetos eram super bem feitos e quando chegou a nossa vez de participar da feira, a minha sala ficou muito animada. Os professores dividiram a turma em alguns grupos e o meu grupo faria um projeto sobre biologia marinha. Lembro que nos encontrávamos semanalmente pra discutir sobre como desenvolveríamos o trabalho e, por sorte, o namorado de uma amiga -- que também estava no grupo -- estava na faculdade fazendo biologia marinha. Nossa, perfeito! Os encontros com o Pedro eram riquíssimos. Tirávamos dúvidas, conversávamos sobre esse mundo aquático e, nesse momento, eu já estava tão envolvida com esse universo, que já me imaginava trabalhando no Projeto Tamar. Pois, eu sou essa pessoa, não posso negar.

No dia da feira, o nosso stand era disputadíssimo. Conseguimos um aquário e dois ouriços do mar, sem contar com todo o material que produzimos: camisas, cartolinas e afins. Durante o processo de desenvolvimento do projeto, comentei com o meu pai sobre o tema do nosso projeto e ele amou. Meu pai era um cara da água -- aquariano como eu. Tinha uma destreza absurda para limpar (e fazer) frutos do mar e sabia, como ninguém, identificar todos os peixes. TODOS. Lembro que durante uma viagem ao Nordeste, o garçom tentou vender gato por lebre e meu pai pegou o cara no pulo. Seu Jair era pura sabedoria.

Voltando à feira, lá pelas tantas, notamos um certo burburinho na quadra da escola -- onde a feira acontecia --, e pasmem: era o meu pai chegando com uma lagosta imensa numa bandeja. Parecia que ele caminhava em câmera lenta na minha direção. Ele não falou nada e na verdade, nem precisava. Se aproximou, abriu um sorriso e eu retribuí. A gente era assim, se entendia num olhar, num gesto.

Eu gosto de pensar que a vida tá nos detalhes, nas delicadezas diárias -- meu pai me ensinou assim. E mais: ele me ensinou que as ações valem bem mais que as palavras. A lagosta? Comemos, é claro.

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