Agora eu quero ir

Aline Alvarenga
2 min readOct 2, 2020

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Porto, 02.10.2020

Atravessei o atlântico e ancorei nesse cais em agosto de 2015. Vim pra estudar e agora, cinco anos depois, começo a imaginar novos horizontes e também, outros desafios.

Aquele momento que vemos o nosso nome na lista dos aprovados é muito marcante e comigo não foi diferente. Lembro que saí do quarto correndo e encontrei minha mãe no corredor com o pano de prato nas mãos. Falei que tinha sido aprovada e ficamos ali abraçadas, ocupando um só espaço. Tinha muita coisa naquele abraço. Lágrimas e mais um milhão de coisas. E sim, tinha muita coisa guardada naquele choro também. Da minha parte, eu mostrava pra mim mesma que era capaz e nos olhos dela, eu conseguia ver o orgulho que ela sentia por essa (enorme) conquista. Em contrapartida, tinha medo misturado com impotência. Talvez ela soubesse que agora eu pertencia ao mundo, porque, no final das contas, é preciso ir.

A minha vontade de sair por aí sempre causou um certo desconforto nos outros, incompreensão também. Eu passei boa parte da vida me sentindo inadequada. Não adianta, a gente sempre procura aprovação dos outros, não tem jeito. Enquanto a maioria quer os pés no chão, eu sempre quis ir. (Pode ser que isso mude, mas por ora, ainda não mudou).

A verdade é que sempre quis me aventurar. Carrego em mim uma vontade enorme de conhecer novos lugares; desbravar. Nessa empreitada aventureira, descobri que posso ser a minha própria casa e carrego dentro dela quem (e o que) eu quiser. Na minha casa guardo incontáveis gargalhadas, alguns amores e outros dissabores — muitos livros também. Durante esse período lusitano, aconteceu tudo e quase nada. Muita coisa mudou e eu mudei também. Estou longe do que sonhei ser um dia, mas muito mais perto do que consigo ser e isso já é o bastante — pelo menos por agora. Não sei muito bem em qual porto atracarei o meu barco, mas agora tenho a certeza que caibo em mim.

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