Domingo
Acordo e nem sei que horas são. É domingo. Com os olhos ainda entreabertos, minha mão direita tateia o colchão à procura do celular que, como de costume, está escondido debaixo do travesseiro. A temperatura marca 5ºC e o relógio marca 11h24: dormi mais de 10h de sono ininterrupto. É meu corpo dizendo para desacelerar; fazer uma pausa. Tenho notado que depois dos trinta, meu corpo emite sinais de cansaço e fadiga: mau uso permanente, talvez. A minha lombar não me deixa esquecer. No celular, nenhuma notificação nova nas redes sociais; há somente um email novo na caixa de entrada. É uma propaganda da Amazon, que tenta me convencer a comprar um livro que acabou de ser lançado. Excluo o email e, ainda deitada, encaro o teto e começo a listar na minha cabeças o que preciso fazer: lavar roupa, arrumar a casa e terminar as correções do artigo. Sento na cama e com os dedos do pé, procuro meu chinelo: estico meus braços num movimento amplo, como se quisesse tocar o teto — meus olhos ainda nem abriram por completo. Calço minhas Havaianas e vejo que só estou com uma meia no pé. Isso me faz lembrar que mexi bastante durante a madrugada: o livro que li antes de pegar no sono está no chão, o travesseiro extra também. Caminho trôpega em direção ao banheiro. Levanto a tampa do vaso sanitário e o assento está gelado. Será que tive um pesadelo? O barulho da urina traz uma sensação de alívio que toma conta do meu corpo por completo — o primeiro xixi do dia é sempre diferente. Fecho meus olhos e sinto meu corpo pesar sobre meus ombros; estufo meu peito, enquanto meu pescoço faz um movimento circular no sentido horário. Alcanço o papel higiênico, dou descarga e sigo em direção a pia para lavar as mãos, escovar os dentes e lavar o rosto. Devia ser proibido lavar o rosto no inverno. Olho meu reflexo no espelho e meus olhos estão inchados, minhas sobrancelhas por fazer; a trança está fora do lugar. As minhas rugas não escondem minhas preocupações. Abro a torneira e a água está tão gelada que os pelos do meu antebraço ficam arrepiados. Todas as manhãs de inverno são assim. Volto para o quarto e abro a cortina: a praça está vazia; as magnólias, quase sem nenhuma folhagem ou flor. Está chovendo de novo. Na verdade, não parou de chover. Não para de chover há mais de 10 dias. É tão difícil ser feliz no inverno. Ser feliz num domingo de inverno é mais difícil ainda.