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Aline Alvarenga
2 min readNov 12, 2021

A luminosidade entrando pela janela fez com que eu despertasse. O barulho ao longe dava sinais que o dia já tinha começado. Olhei o relógio na mesa de cabeceira e já passava das 10h. Ao meu lado, repousava um corpo nu. Meus olhos percorreram aquele corpo o qual o lençol cobria displicentemente algumas partes e fiquei admirando todas as protuberâncias ali expostas, suas marcas e ondulações. Pensei em toda a potência do feminino; na possibilidade de gerar outros tantos; nas violências que compartilhamos diariamente.

Ela dormia um sono tranquilo e vê-la ali — aquele corpo tão à vontade com a minha presença — trazia uma naturalidade e, ao mesmo tempo, uma intimidade jamais compartilhada. Acompanhei o seu respirar por alguns minutos e, com o dedo indicador, afastei uma mecha de cabelo que cobria a sua testa e ela se mexeu levemente. Ainda com o indicador, continuei percorrendo o seu corpo até chegar no seu umbigo e ela abriu os olhos. Encaixei meu corpo ao dela e a beijei um beijo curto e despretensioso, como aqueles beijos que se dá todos os dias. Como se aquele beijo fosse um ato corriqueiro — não era.

Permanecemos ali, num só enlace. Ficamos em silêncio, e não era preciso dizer nada, só permanecer dentro daquele abraço. Aquela manhã me fez lembrar das aulas de física na escola e cheguei à conclusão de que dois corpos podem, sim, ocupar um só espaço no tempo. Aquele momento era a prova cabal, de que era, de fato, possível. Dois corpos podem proporcionar uma imensidão de possibilidades. Foi com ela que eu descobri. Foi naquele corpo que eu me achei e também me perdi.

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