Aline Alvarenga
3 min readJun 22, 2020

Mulheres acadêmicas

Tive o privilégio e a honra de conhecer mulheres incríveis no decorrer da minha vida acadêmica. Talvez eu seja um ponto fora da curva, mas minha vida foi permeada por mulheres. Grandes mulheres.

A começar pela professora que me ensinou a ler e escrever: Letícia. Lembro do seu cabelo preto e da sua voz, por vezes firme, mas sempre doce e gentil. Aprendi a ler relativamente rápido e minha mãe sempre conta uma história curiosa que aconteceu durante o meu processo de alfabetização. Estávamos dentro do carro quando o sinal fechou e li em voz alta um outdoor, que estava ao meu lado: “BRA… DES … CO”. Sim, Bradesco foi uma das primeiras palavras que li. Fui alfabetizada numa escola Montessoriana — o que para os anos 90 era uma atitude um bocado progressista, verdade. Esse talvez tenha sido o maior legado que meus pais me deixaram. A Aldeia Curumim foi peça fundamental para a formação da pessoa que sou hoje.

Já no ensino fundamental — numa escola diferente — , tive o prazer de entrar em contato com uma professora incrível que dava aula de português e literatura. O nome dela é Andréa e foi a partir dela que comecei a me interessar por literatura e pela escrita. A Andréa tinha um carisma peculiar e uma paixão que contagiava todos os alunos — além de ser uma profissional muito qualificada. As aulas de literatura eram cheias de música, arte e muita poesia. Hoje em dia — quase vinte anos depois — , somos amigas e a minha admiração por ela só aumenta. A Andréa é o que eu quero ser: amiga, correta e gentil.

Entrei na faculdade de Medicina Veterinária com o intuito de trabalhar com cavalos, mas como a vida é uma caixinha de surpresas, isso nunca aconteceu. No terceiro ano da graduação, encontrei um estágio na faculdade, no laboratório de Patologia. A responsável pelo estágio era a professora Sara e até então eu não sabia muito bem o que era a Patologia, muito menos quais eram as atribuições de um patologista. A verdade é que comecei a estagiar no laboratório e nunca mais saí. Ou melhor, saí monitora e depois médica veterinária patologista. A Sara tinha essa capacidade de cativar os alunos e por mais denso que possa parecer, ela tinha essa facilidade de tornar a disciplina leve e acessível — sem contar com as histórias incríveis que ela contava de Botucatu. Sou patologista por causa dela, sem sombra de dúvida.

Já na pós-graduação, tive o privilégio de conviver com a professora Maria Cecília e foi um período de aprendizado diário. A residência tende a ser turbulenta, porque a rotina é exaustiva e as atribuições dos residentes são inúmeras. É um período de muito trabalho, mas muito aprendizado. No meu primeiro dia de residência fizemos uma necropsia de um cavalo e cheguei tarde da noite em casa. Foi um prelúdio de como a residência seria. Foi, certamente, o período mais importante da minha formação como patologista veterinária e a Cecília sempre ali, disponível e disposta para com os alunos. Sempre. Nunca vi alguém com tanto entusiasmo e tanta disposição. Pra ela não tinha tempo ruim. Passávamos horas e horas no microscópio e na sala de necropsia — que ela ajudava a limpar com os alunos no final, vale lembrar. A Sara me ensinou a ser patologista e a Cecília me explicou o motivo de eu ser patologista.