Quem é você?

Aline Alvarenga
2 min readApr 14, 2022

É muito interessante (e curioso) ouvir coisas diferentes a nosso respeito. Digo isso porque há uma discrepância no olhar do outro sobre nós. Há, sim, uma visão pré-concebida do outro sobre o que, de fato, somos. E sim, o contrário também é verdadeiro. Desconfio que parte dessa confusão é decorrente de como nos mostramos para o mundo e, é claro, tem muito a ver com a expectativa e realidade. Mas, não adianta, os rótulos sempre nos vestem, queiramos ou não.

A minha versão 2022 é, com certeza, uma versão melhorada de mim — assim espero. Há um aprendizado que é inerente à vida e tenho muita satisfação em dizer que estou muito mais perto da pessoa que almejo ser. Talvez eu tenha entendido que não dá pra ficar lutando contra o espelho. Eu decidi parar de me detestar. Com o passar do tempo, aprendi a gostar mais de mim e isso reflete no que transmito para os outros. Mas o caminho é longo e tortuoso: há dias bons e outros nem tanto, mas sim, estou numa posição muito mais confortável.

Acho que muito dessa mudança veio por conta da pandemia, porque, apesar das inúmeras perdas e incertezas, esse período pandêmico também me trouxe muitos aprendizados. Foi, de fato, um período de muita reflexão e autoconhecimento. Acho que a solidão pandêmica me impulsionou para lidar com muitas coisas que estavam “aparentemente” escondidas. Mas, foi um período de descobertas muito agradáveis também.

É muito libertador descobrir que a mulher tímida, que por vezes tropeça nas palavras, não precisa (e não vai) ser a minha única versão. Que a criatividade sempre esteve presente em mim e que agora está pronta para mostrar a que veio. (Uma amiga muito querida diz que tenho alma de artista e ela está certíssima). Que posso ser essa pessoa comunicativa e agregadora e que a minha escuta ativa serviu de colo e aconchego para muitos.

Mas, é claro que alguns desafios se impuseram, principalmente no que diz respeito aos limites. Hoje, mais do que nunca, é necessário colocá-los em prática. Verbalizar aquilo que me incomoda e, é claro, saber também ouvir. Porque “há coisas para serem ditas e outras para serem ouvidas”. Hoje, mais do que nunca, eu entendo que não há nenhum problema em pedir ajuda e que não vai dar para carregar o peso do mundo nas costas. É muito cansativo e minha coluna não suportaria, não mesmo.

Rótulos são um atalho para entendermos o outro, mas são incompletos e autolimitantes. Há, ainda, muito para além da embalagem. Rótulos estão longe de traduzir toda a nossa inteireza. E será que nos mostramos por completo para o outro? Eu desconfio que não, mas divago. Somos complexos, contraditórios e incríveis. Com uma dose de autoconhecimento, tempo e escuta, a gente descobre quem a gente é. Somos únicos, porém múltiplos.

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