Aline Alvarenga
2 min readDec 29, 2020

Tétano

O apaixonamento inicial é inerente às relações. E mais: não importa o tipo. No início, como dizem, tudo são flores. O olho brilha; o coração bate mais rápido e, às vezes, bate em sincronia. É o período em que exercitamos a nossa generosidade ao máximo. Há uma cegueira momentânea. Distração também. Os defeitos do outro nem são defeitos, tornam-se excentricidades. A toalha molhada em cima da cama; a mensagem visualizada e não respondida. No início, a doação ao outro e ao relacionamento é de 200%. A gente se vira do avesso. Entretanto, é necessário impor limites; construir e desconstruir. Há muita expectativa e consequentemente, há também, frustração. E quanto a frustração se instaura nos relacionamentos, é como um meteoro caindo sobre a Terra. Causa danos terríveis e, às vezes, irreconciliáveis. Sabe aquele castelo de areia na praia? Pois então. A onda bate e o castelo, antes rígido e concreto, se desfaz. Parece que mudamos a lente pra ver as coisas. Se antes víamos tudo em cor de rosa, agora vemos tudo pela lente escura. (Talvez a lente da realidade? Não sei). É quando a toalha molhada incomoda e quando as mensagens visualizadas e não respondidas dão vazão à imaginação. Os dias ficam cinzas e a comida, sem sabor. Se o amor é o responsável por lubrificar as nossas engrenagens, o ressentimento é aquele capaz de enferrujá-las.